terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Violência Comum

Não temos mais que uma respiração conjunta;
Nem mais que uma dança onde braços e pernas,
balançam juntos um corpo que, não fosse isso, se faria inerte.
Dois pares de olhos que se enfrentam;
Bocas que perpetuam uma ameaça mútua,
transformada em violência por lábios que sangram e unhas que fazem sangrar.
Mas o sangue traz a dor e esta, a realidade.
Não temos mais que o 'nada';
A sentir e a sofrer,
a ponderar, nem comedir.
Criamos nosso próprio vácuo para nele,
nos sentirmos plenos.
Na dança, na dor, conjunta ou solitária;
Mas sempre violenta,
ou não seria tão real.

 
Modelo: Ingrid

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Uma Noite, ou Menos

Prefiro não saber do que preciso;
Planos e frases feitas não se enquadram nas minhas paredes;
Sigo por caminhos de uma encantadora incerteza,
e por vezes, me deixo levar por alguma mão que me é estendida;
Durante uma noite, ou menos.
A necessidade é sempre plural;
A satisfação também.
O tempo nos serve com memórias que muitas vezes,
deveríamos esquecer;
E por muitas vezes, não nos vemos capazes.
Livramo-nos da necessidade de perdoar, esquecendo.
Nos desvencilhamos das verdades desagradáveis;
Desconhecemos o remorso;
E a compaixão.
Tomamos a fuga premeditada, 
como antídoto para todo tipo de dor.
Mantemos a cabeça baixa;
Trancamos o mundo do lado de fora;
Num momento de estar consigo, e só.
Em momentos que não vemos o que precisamos;
Esquecemos, ao invés de perdoar.
Escrevemos.



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eu Sou

Desprezo qualquer salvação que me é oferecida;
Não me darei a nenhum raio de sol que insista penetrar meu quarto,
em uma manhã de sábado qualquer.
Não compartilharei os escombros que habito;
E que já há tanto tempo,
tem me feito sentir dono deste território vazio e de pouco valor.
Apropriado.
Receio não haver sentido em abri-lo para visitação;
Não é de meu interesse que outro alguém se instale aqui;
Me conforta a ideia de que tudo, 
tanto as belezas quanto as avarias,
sejam de total responsabilidade minha;
E de mais ninguém.
Vivo bem assim.
Com a certeza de que qualquer uma,
vive melhor, fora daqui.
A contemplar este tipo de solidão,
dedico meus melhores anos;
E neles, construo minhas melhores memórias.




quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Palavras e Pedras

Ser escravo da lógica tem inúmeras desvantagens;
A falta de sentido na ordem dos acontecimentos confunde,
faz-me perder o senso que tanto me acalenta.
O estrago que vem sem avisar,
que é impossível de reconhecer.
A tangente sempre se mostra sedutora;
Dar de ombros e relevar,
com a certeza de que logo, tudo estará debaixo da terra,
e nem mesmo o silêncio me fará recordar.
Não quero e não preciso.
Me isento da responsabilidade;
Como você se isentou da permanência;
Quando poderia ter na tua ausência, a minha paz.
Te agradeço pelos pedaços bons;
E ignoro todo o resto;
Bem treinado, que me tornei.
Encantar-me pelo teu desequilíbrio;
Pelos teus excessos;
É uma sentença com que lido,
quase que sem esforço.
Não marcarei as paredes;
Este tempo, não faço questão de calcular.
Não altero meus anseios;
Não antes de torná-los suportáveis.
E faço questão de pisar em cada pedra,
que se mostrar digna de fazer sangrar meus pés.


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Olho do Furacão

Devo ser invisível à essa transcendência, que jamais me atinge;
Munido de fraquezas até os dentes;
Que não se pode esconder de olhos atentos, nem de olfatos sensíveis;
Fui levado por você, através de mim;
Em constante atrito com o tempo que...  definhava vagarosamente;
Sob o efeito da tua presença.
Eu, a esticar meu braço;
Tentando alcançar o que se afastava;
Até se perder.
A observar a dança do teu cabelo no ar, ao passo em que tu subias a rua,
eu parado, com a cabeça voltada para trás, parado.
Me senti exausto, e ainda, faminto;
Tentado ao constrangimento e também à devoção.
Você chegou como um vento desconhecido;
Que eu nunca quis que parasse de soprar;
Me ofereceu a paz do centro de um furacão,
e eu me acalentei nela.
Busquei me cegar para o nosso redor;
Esquecer da destruição à espreita,
que não abriria mão de nos estraçalhar.
Nossos restos ficaram jogados por um terreno silencioso;
Horizontal e inanimado.
O outrora não pode ser reconstruído,
restando somente espaço para algo novo;
Diferente.
Onde e no quê não mais nos reconhecemos.
Me transformei passando por ti;
E jamais deixarei de apreciar o vento.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

As Costas e Um Par de Olhos

Sempre apreciei as formas das tuas costas;
Sempre me foi agradável te ver indo embora;
E a minha porta se fechando atrás de você.
Sempre soube que chegaria o dia,
em que não mais a abriria para apreciar esses olhos escuros me encarando;
Vê-los passar por mim e serem substituídos pelas tuas costas, novamente, no corredor.
O prazer do toque e até mesmo,
do meu calar, ao te ouvir.
E toda essa beleza, já sentenciada ao fim;
Levada sem urgência, sem presunção;
Apenas pelo “querer agora” e o “não ter depois”;
Alternando silêncios, com risadas... e gritos;
Até que os olhares deram lugar ao cenho fechado,
e uma última vontade sua:
Ir embora.
Eu não desejei que fosse;
Eu não pedi que ficasse;
Dei à mim a chance de não querer,
Mas de poder recordar uma última vez,
das tuas belas costas;
Da prazerosa impressão que me causavam;
Levando com elas uma presença,
cuja falta sempre imaginei, que um dia me faria.
Devagar, a porta se fechou;
Atrás de você;
Dentro de mim.


terça-feira, 13 de maio de 2014

Liberdade, aonde...

Há quem faça seu mundo, a partir do inferno dos outros;
Que veja em si uma vocação para carregar dores.
É, até certo ponto, irônica, essa relação;
De dar à outrem o que sequer se tem em si,
mas que de algum modo, pode ser recebido.
Nunca julguei-me capacho, tampouco vassalo,
mas te ofereço uma devoção que, mesmo sem eu sentir em mim,
você a aceita e faz uso dela.
Perto ou longe, em palavras ou em um tímido olhar de soslaio;
Você sabe, antes de mim.
Como sabe que o meu silêncio é proposital;
Que mesmo quando falo, tomo fardos para mim;
Dores que não são minhas, mas eu as visto.
E a perceber, nas tuas respostas, elas ganham relevância.
E ganham a minha realidade, sufocando qualquer sonho ou pesadelo.
Eis a ironia.
Te perco, sem nunca me permitir te resgatar;
O cativeiro te apraz e talvez esse meu ar libertino e libertário te assuste;
Por mais que a tua vontade queira se livrar das correntes,
a tua consciência te aprisiona e eu passo a ser o 'grande vilão'.
Sempre.
E olhando do lado de fora do teu mundo, te admiro;
Aprecio as tuas formas, cores e o jeito leve dos teus movimentos.
Acho plausível a construção da tuas próprias verdades,
mesmo que baseadas em verdades que não te pertenciam e em mim, não inspiram sensatez.
Compreendo que essa sua jaula te cause algum orgulho;
Uma vez que você se nega a enxergá-la.
Uma lucidez ébria, pela ideia de não pertencer ao mundo de um 'vilão'.
E ninguém ouve a sua consciência gritar.
Ninguém.

Model: Unknown

terça-feira, 15 de abril de 2014

Acordar

Queria eu poder aprisionar a sensação,
Do acordar conjunto, plural, quase coletivo;
Fazer minha a luz que entra e aos meus olhos, te reflete.
Tornar o irremediável, irrelevante e estático;
Sendo feito daquilo que te forma, e que te torna...  tu.
Levar meus dedos, minha língua, a passear pelo teu relevo.
Nossos sentidos domados pelo álcool, afundados em suor e fumaça;
Nos alimentando das horas, dos dias, sem notar.
A transcendência dos sonhos esmagados, cuspidos;
Patéticos somos, a gritar e a sorrir;
A sangrar.
Queria eu aprisionar o efeito,
Dos teus traços combinados, com a respiração ofegante;
Das palavras sem sentido;
Expressadas às paredes, aos lençóis;
Em meio a música alta, o vento na janela, as folhas derrubadas.
Tendo isso comigo, me sinto menos eu, menos o meu mundo;
Mais invadido, que invasor;
Mais faminto, que doador;
Mais confuso, que instrutor.
Queria eu aprisionar você;
Para usar teu corpo,
Quando o meu, não mais me apetecer.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Água Fria

Não me importam as cores, sendo cego;
Aquela rebeldia de outrora, que me fazia tão bem...
não encontro nenhum sentido nos dias em que vivo.
A esperar a volta das palavras perdidas,
dedicadas tantas vezes aos ouvidos errados,
de quem já havia ido, sem se despedir;
Nem reaparecer, nunca mais;
Permitindo ao tempo fazer esmorecer a memória daqueles dias.
Me acalmo... paro o olhar em um ponto;
Me solto e perco-me.
Nada mais parece ser o 'agora';
E eu agradeço por isso.
Não há volta, como não há espera;
Escolhas dependentes de valor e sentido,
que inexistem dentro de mim e tampouco, ao meu redor.
Esfrio como a água recém fervilhada e já sem fogo;
Sem cores, nem cheiro, nem toque.

Photo: Unknown