quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Desvios

Saímos da estrada.
Nossos caminhos tomaram desvios diferentes;
Nunca fomos o tipo que segue mapas pré-determinados...
Nos servimos da liberdade e nos embriagamos dela.
Vivemos maravilhosas manhãs de ressaca,
e rimos disso.
Você então, decidiu continuar.
Eu saí de cena e fui te aplaudir da platéia;
Te contemplei de longe;
Sem tomar parte.
Você seguiu, alcançou-se;
E eu senti alegria por isso.
No encerrar do espetáculo, mantive-me imóvel.
As cortinas desceram, o lugar ficou vazio.
Fiquei eu, sentado, no escuro;
Enquanto você foi apresentar-se em outro lugar.

Modelo: Chey Sandrinne

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sentidos


Me deixei levar...
Vi em ti uma possibilidade e me agarrei à ela.
Abandonei planos, reconstruí esperanças já enterradas;
Quando não me atentei da tua necessidade de um estepe,
de um "plano B".
Desfiz-me de convicções sólidas, acreditando estar errado;
Então me vi fragilizado pelas tuas escolhas.
Malditos sejam esses sentidos,
que me proporcionam uma percepção pouco favorável à vida;
Que me fazem questionar todas essas idas e vindas;
Quando pretendia desperdiçar todo meu tempo contigo;
Sendo obrigado a desperdiçar todo o tempo sozinho,
e vendo então que era todo o tempo que eu tinha.



Modelo: Shy Shimenni

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Outra Coisa

Não é dor, quando faz brilhar os olhos;
Não é choro, quando as lágrimas trazem consigo, um riso incontido;
É outra coisa.
Arrepios que fazem ofegar;
Braços soltos e rosto afundado no travesseiro;
Um pedido silencioso, que se debate por dentro,
e é prontamente atendido.
Com raiva, carinho e um entusiasmo irregular.
Como um silêncio em uma conversa,
onde as palavras não fazem falta alguma.

Foto: José Gama

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Blindou-se

Sabendo que não viveria pra sempre,
ela nunca se preocupou em viver para alguém;
Queria mesmo era inundar-se de si,
como paixões inundam-se de coxas firmes e seios fartos;
O álcool deixando sempre um sorriso nos lábios,
um gosto amargo que fazia bem.
Eu a observei atravessar dias escuros, sob um sol escaldante;
A vi recusando todos os braços que se estendiam oferecendo conforto...
ou demagogia.
Ela, agarrada à ideia de ser tudo para si, blindou-se;
Eu a observei negativando-se para o mundo;
Arrastando-se para fora dos escombros de uma guerra que não era sua,
sem ressentir os mortos que ficavam para trás.
Eu a observei trocar de pele, de vontades e de planos;
Munindo-se de veneno, beleza e crueldade;
Rindo do próprio ódio, enquanto lambia as suas feridas,
que ela fazia questão de manter bem abertas.



Foto: Carla Maio

segunda-feira, 21 de março de 2016

Não Entendo

Não entendo;
E não por ser complicado,
nem por pensar que não seja o melhor pra nós dois.
Não entendo porque não quero aceitar um conformismo covarde;
Não quero me ver daqui a 20 ou 30 anos,
sentado em uma cadeira de balanço,
sendo obrigado a ainda te carregar na memória;
Sabendo que aceitei uma sentença tão leviana quanto cruel.
E escolhi me calar, como quem se joga sobre uma granada sem pino.
Desejei que fosse diferente;
Desejei que fôssemos o final da linha, um para o outro;
A última ficha, para finalmente sairmos desse jogo que só nos trouxe prejuízos,
por melhor que soubéssemos blefar.
Mas você decidiu manter-se na mesa,
e me eliminou sem nem levantar os olhos.
Desejei te fazer rir;
Desejei dividir essa cadeira de balanço contigo;
E jamais seria aquele te impediria de saltar de uma ponte,
mas seguraria a tua mão e saltaria contigo.
Ainda assim, eu conheço o meu lugar,
e sei manter-me nele.
Me calei, mas não entendo.
Nunca entenderei.
Espero que ao menos você entenda,
e valorize a paz que de longe, 
passei a te proporcionar.

Foto: Desconhecido

quarta-feira, 9 de março de 2016

Beleza Infame

Uma beleza infame, de corpo branco, tenro e perfumado;
A me flagelar como nós do açoite que mordem-me a carne;
E por vezes faz meus pés sonharem em permanecerem pendidos,
girando lentamente para a direita... depois para a esquerda.
Um sonho impossível de se ser acordado em paz;
E por mais que eu insista em te arrastar para a minha realidade, 
me vejo impedido pela coleira que você insiste em manter no teu próprio pescoço,
presa às tuas questões mundanas que eu, nunca compreenderei.
Mantendo-me no teu pensamento como um refúgio longínquo,
que talvez nunca venha te proporcionar descanso em um futuro longínquo que talvez nunca chegue.
Aos poucos, realizar o sonhos dos meus pés,
passa a me parecer uma inclinação mais do que satisfatória.



domingo, 7 de fevereiro de 2016

Dançar Sozinho

De riso tímido e um charme cínico no olhar;
Você me chamava para ti ao som de cordas friccionadas e movimentos leves.
Eu hesitei, me mantendo seguro, enclausurado em uma redoma de medo;
Não sabia à quê tipo de dança estava sendo convidado.
Permaneci, receoso;
Assisti descrente a tua confiança se transformar em convicção;
Arrancando de mim uma rendição, como quem arranca esculturas de um bloco de gelo;
E quando enfim, me levantei,
você flutuou para longe;
Eu, vendo-me sem saber como dançar sozinho, estarreci;
Baixei os olhos culpando meus pés por tão ingênuo e insensato impulso.
Sequer pensei em te impedir;
Seria como segurar folhas secas em um vendaval,
que não sopra a meu favor.




quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Congelados

Não procure em mim os abraços dele;
Nem os afagos, ou o mesmo cheiro pela manhã;
O café preparado por mim será mais forte e (muito) mais quente.
O que ele tirou de ti, eu não poderei substituir;
São lugares que não (re)visitará comigo;
Você nunca sentirá comigo o que sentiu outrora;
Não te farei sentir-se como costumava, e está tudo bem.
Também não quero aquilo que você foi pra ele;
Não compartilharei da mesma companhia com uma mera diferença cronológica.
Quero conservar tua história e tudo o que dela resultou;
Para enfim, tomar parte.
Que você não me veja como um recomeço, nem continuação de coisa alguma;
Eu não verei em você uma oportunidade para silenciar os meus tormentos,
nem pretendo silenciar os teus.
Não seremos a salvação de um para o outro.
Seremos o que precisamos ser e isso nos bastará;
Enquanto formos capazes de derreter o sangue congelado em nossas veias.

Foto: Jil Norberto