quarta-feira, 22 de julho de 2015

Fragilidade

Após morrer um punhado de vezes,
a dor deixa de fazer sentido;
Deixa de se fazer sentida.
Ao contrário do que dizem, 
a morte da esperança é a melhor de todas.
Faz cessar a tortura da espera e nos obriga a virar a página.
Costurar as feridas torna-se uma ocupação,
quase que um esporte;
Nos mantém em forma no que tange ao quê realmente importa.
No admirável talento na arte da sobrevivência.
E de nada nos serve a fragilidade da esperança por dias de sol;
Enquanto o gelo ainda insistir em nos petrificar.

Foto: Desconhecido

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Pregado

Nos formamos através de pedaços recolhidos com o passar do tempo;
Juntando partes que nem se encaixavam tão bem,
mas nós as sustentamos.
Não é a perfeição que nos move,
mas os espaços que nos permitem vazar as partes nossas que preferimos abandonar.
No final, nos reencontramos no calor e nos arrepios;
E tudo fica bem...  até esse bem nos enjoar.
Nos fazer explodir tudo mais algumas vezes,
apenas para nos destruir um pouco mais.
Frente a frente;
Com uma das mãos pregada na cruz;
A outra estendida, segurando a tua;
De leve, e se desvencilhando à medida que o passo muda;
Até você decidir correr,
e eu, preferir manter-me parado.
Pregado.

Foto: Desconhecido

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Estímulo Raro

Esta infeliz coincidência de saltar no momento inexato;
A consequência da queda inevitável e o barulho dos ossos quebrando.
Você passou, eu titubeei e perdi o tempo.
Talvez fosse o copo e o cigarro que ocupavam as minhas mãos;
Talvez o teu cheiro tenha afetado as minhas reações;
A hipnose dos teus movimentos pelo ar...
Você.
Um quadro vivo em uma parede cinza, já desbotada;
Obrigando-me a te notar e ainda,
ser impelido a me jogar para você;
Como um prato rotineiro a ser devorado sem apreço algum;
Incapaz de me fazer iguaria.
Não que me preocupem as queixas,
nem qualquer pretensão de ser feliz.
O que incomoda, é ter que recolher os estímulos,
que já se fazem tão raros.

Foto: Luís Mendonça