Há quem faça seu mundo, a partir do inferno dos outros;
Que veja em si uma vocação para carregar dores.
É, até certo ponto, irônica, essa relação;
De dar à outrem o que sequer se tem em si,
mas que de algum modo, pode ser recebido.
Nunca julguei-me capacho, tampouco vassalo,
mas te ofereço uma devoção que, mesmo sem eu sentir em mim,
você a aceita e faz uso dela.
Perto ou longe, em palavras ou em um tímido olhar de soslaio;
Você sabe, antes de mim.
Como sabe que o meu silêncio é proposital;
Que mesmo quando falo, tomo fardos para mim;
Dores que não são minhas, mas eu as visto.
E a perceber, nas tuas respostas, elas ganham relevância.
E ganham a minha realidade, sufocando qualquer sonho ou pesadelo.
Eis a ironia.
Te perco, sem nunca me permitir te resgatar;
O cativeiro te apraz e talvez esse meu ar libertino e libertário te assuste;
Por mais que a tua vontade queira se livrar das correntes,
a tua consciência te aprisiona e eu passo a ser o 'grande vilão'.
Sempre.
E olhando do lado de fora do teu mundo, te admiro;
Aprecio as tuas formas, cores e o jeito leve dos teus movimentos.
Acho plausível a construção da tuas próprias verdades,
mesmo que baseadas em verdades que não te pertenciam e em mim, não inspiram sensatez.
Compreendo que essa sua jaula te cause algum orgulho;
Uma vez que você se nega a enxergá-la.
Uma lucidez ébria, pela ideia de não pertencer ao mundo de um 'vilão'.
E ninguém ouve a sua consciência gritar.
Ninguém.
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