sexta-feira, 30 de março de 2012

Nossas Cinzas

A queimar e a sorrir;
Não se tem nada por real;
Como o sangrar silencioso e lento do florescer;
O cair das cinzas não se faz percebido.
Ao contrário, o vento que grita ao rasgar cortinas;
Se mostra presente sem efeito algum... senão estético.
Solenemente nos damos as mãos;
E juntos saltamos em catarse,
Entregues a esmo para o indiferente adormecer;
Para a mútua cessão de estímulos;
Para o enterro de todo interesse.
Nos fazemos inanimados;
Nos prostramos descalços, porém coroados;
Envoltos em frases ensaiadas,
Não nos damos conta do caminhar tendencioso,
Da verdade, que definha.
Sem mais cortinas a rasgar.
O vento recolhe as cinzas;
Fazendo de nós, o nada;
Com os cumprimentos de todo sentido que uma vez, talvez,
Aspirávamos a fazer.

Foto: José Magalhães

4 comentários:

  1. Você tem um jeito bem peculiar de escrever, HerrBrant. Uma sensibilidade absurda.

    Gostei deveras do seu blog. Parabéns.

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  2. Estou esperando o vento recolher as cinzas. E acho que você desatou um dos nós da minha garganta, de um sentimento que eu não sabia traduzir. "Unseren Asche", claro...

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  3. Como disse Nietzsche: "Voce tem que estar preparado para se queimar na sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas."

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