segunda-feira, 30 de março de 2015

Perdas Sem Nome

A fumaça se dissipa no campo de batalha;
Uma trégua para recolher os mortos;
Tempo de estancar o sangue e tentar reerguer a cabeça.
Pensamos e erramos em tudo;
Perdemos.
Somos vidro, quebramos e nos cortamos mesmo ao nos recolher;
Obrigados a ignorar todo suor e sangue desperdiçado;
Perdemos pedaços que serão encontrados por outro alguém;
Que talvez faça com eles um belo colar,
a ser exibido à quem desconhece a nossa dor.
Lamentamos, por não sentirem como sentimos;
Por não carregarmos em nós essa indiferença que parece ser tão útil;
Tão simples e prática.
Ao invés, nos importamos com o que sequer nos vê.
E assim, partimos para novas batalhas;
E continuamos a ser nada e ninguém.

Foto: Manuel Galrinho

terça-feira, 24 de março de 2015

As Piores Decisões

Juro que não quero pensar,
mas sinto explodir.
Se não somos meros produtos das nossas piores escolhas...
Baseadas em impressões superficiais,
pagamos caro pela incompetência em conhecer a nós mesmos,
tão mal.
Em nunca saber o que esperar;
Nem fazer.
Desenhamos febres e jardins floridos em telas de outrem,
que decidirá o que fazer com elas,
independente de nossa vontade.
Leiloamos nosso carisma.
Leva quem oferecer mais,
independente de qualquer merecimento.
Nossas satisfações já valem tão pouco;
Nos livrar de tudo, é mais uma delas.
Escolhemos nos doar, sem que ninguém peça;
Nem espere que possamos ficar;
Querer ficar.
As mais raras obras;
Feitas de toques, olhares e suspiros;
Deterioradas por preocupações e incertezas;
Estas também, escolhidas.

Foto: Filipe Correia

quarta-feira, 18 de março de 2015

Insuficiência

O que antes estava entre meus dentes,
agora nem meus dedos conseguem alcançar;
E nada é capaz de se fazer suficiente.
Não é o que digo, mas o que faço, que me distancia do que quero.
Quero que seja real, esse teu desejo;
Como quero não ser um estranho para você;
Quero que sejamos uma verdade;
E só.
Impreciso, involuntário, frio e insensível;
Cego e surdo ao que se mostra;
Incapaz de se fazer suficiente.
Te faço cruzar os braços, fechar a porta e duvidar;
Te espreito com o pensamento e passo a te observar por dentro;
Podendo ver tudo o que você precisa;
E o que por agora, apenas não sou.
Faço-me o teu redor;
E não satisfaço.
Sou o que sou, para sempre, vivo ou morto;
E sou para você.
E você é um sonho, dentro do meu pesadelo particular.

Foto: Antonio Jorge Nunes

quarta-feira, 4 de março de 2015

Um Calor de Inverno

Lamentavelmente, sou incapaz de me importar;
De sentir, por mais que eu queira.
Me vejo cercado;
Acuado dentro da minha própria cela;
E tudo parece, encolher.
A fina luz que tenta me alcançar,
se perde em meio a poeira e fumaça;
Nem o vento, parece ainda soprar.
E por mais que eu tente;
Por mais que eu range os dentes pelo esforço;
A vontade , a força, não alcança a cura.
Como uma mosca dourada que brilha na minha frente,
mas some, quando a tento segurar nas mãos.
E o único caminho que se mostra,
é o adormecer.
Te transformo num calor de inverno;
Frágil e com a partida marcada para breve;
Te silencio na memória;
Mas ainda e sempre,
te carrego no meu bolso.

Photo: Jovelino Matos Almeida