sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Tapete

Esta realidade parece não mais, ser capaz de me alcançar;
Jogado e entregue, aos teus olhos me faço serviçal;
Invisível enquanto você passa, baixo demais p'ra te fazer tropeçar.
Te observo bater a porta, deixando-me para trás,
e limpando teus pés, sempre te recebo de volta.
Me fortaleço na tua soberba e absorvo todo o teu desdém;
Não invejo o descaso que você distribui à sua volta;
Nem esse forçado ar de segurança sob a tua maquiagem.
Sou menos que um figurante do teu cenário hostil;
Deixando um buraco na fotografia quando saio de cena.
Enquanto você aprecia a liberdade da tua cela,
eu refino meu gosto, meu toque e meus movimentos pelo ar;
Eu te alcanço, p'ra perceber enfim, que não há nada em você,
p'ra mim.

Modelo: Renata

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Tão Perto

Deixando as preocupações de lado;
Tornei a chamar-te;
Com uma desculpa de ter sentido falta de algum livro,
certamente esquecido sobre a mesa da tua sala... ou na cabeceira da tua cama.
Tentamos quebrar a tensão com algumas piadas e juntos,
forçamos risadas que antes eram espontâneas.
Um breve silêncio na fala, um suspiro deste lado da linha e uma pergunta:
-Você está bem?
Eu sempre soube da tua vontade em compartilhar do peso que carrego;
Sempre soube que se entregaria, se fosse necessário;
E que isso te tornaria miseravelmente infeliz.
Hoje, você está bem.
Sei que chorou, quando quis;
Sei que morreu um pouco, e lentamente.
Eu hoje, posso sentir-te fora de mim;
Sei que ainda me observa de longe;
Como se fosse para reafirmar à si mesma que foi melhor assim;
Que desistir foi a escolha acertada.
Convence-se de que, se tivesse ficado, estaria arrependida.
Do lado de cá da linha, esqueço do livro;
Quero apenas te ouvir falar;
De tão longe, ainda estando tão perto.

Foto: Fabiana Saar

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sobreviva(se)

O momento chegou.
Você deixou-se tomar pela ira e fez dela,
o meu flagelo.
Fomos sinceros como nunca havíamos sido;
Não tive saídas a te oferecer.
Você, encolhida, não me permitiu pena;
Sequer compaixão.
Suplicou por uma crueldade que seria como álcool nas tuas feridas.
E você sobreviveu.
Gritou, debateu-se... e suportou a dor bravamente.
Não necessita mais dos meus dedos,
nem da minha língua adentrando o teu mundo.
Tornou-se sua, e só.
Recompôs-se, reergueu-se.
Aniquilou as minhas memórias da forma que determinou ser mais eficaz.
Escolheu por si só a liberdade dos sentidos... e da carne.
Doou-se e teve-se de volta.
Orgulhou-se das lágrimas derramadas e fez delas um troféu;
Venceu-se.
Agora, percebe que não havia saída melhor do que nenhuma;
Nenhuma saída.
Sufocou tudo em si;
E por isso, agora, tens tudo.

Modelo: Angélica