domingo, 29 de setembro de 2013

Copo Vazio

Bebo.
Uma forma eficaz para se lidar com demônios;
Uma maneira de suicidar-se poupando a carne;
Uma fuga, um encontro, um desconhecido "eu" que se mostra,
para ser esquecido na manhã seguinte;
Um reflexo, que não se vê.
Te vejo turva e liquefeita;
A preencher-me a língua e entre os dentes;
A me consumir em sangue, saliva e pólvora;
A me engolir, vagarosamente.
Me dedico à ti, sem ressalvas nem galanteios baratos;
Te percorro inteira, entre os dedos, 
entre as pernas, da nuca ao tornozelo;
Te ouço, te olho, te cheiro, te como;
Te sonho.
E a devorar-me, abandona-me;
Me joga aos leões e apontando o dedo,
ri de mim.
Me cospe, me regurgita e de mim, se livra;
Risca meu nome, busca outro;
E assim me condena,
a voltar a beber sozinho.


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Linda Mentira

Nem devasso o bastante para ser sábio;
Nem ponderado o bastante para não ser sincero;
Me cubro de ferro e pedras;
Construo um casulo que me serve de prisão.
A beleza lânguida se resume em memória.
Transbordam dissonantes palavras frente a contraditórias ações;
O filme já visto, em traduções diferentes;
A mesma piada, de tom sem graça e risos forçados.
Sempre encontro o que busco;
Mas é raro gostar do que vejo ao levantar o véu;
Ao viver uma verdade abominável,
ou ao me encantar com uma mentira mundana;
De finos tratos, dissimulados olhares e um toque frio;
Mas cultivada sempre com ardor e pureza,
nos breves instantes que se faz relevante;
A surgir e a esmorecer por muitas vezes;
Sempre a fazer sorrir e sangrar,
conforme seu propósito natural.
Traz consigo uma dose de devassidão, outra de sabedoria;
Nunca bebo de ambas.
Mas está lá, ao meu dispor;
A iluminar e a escurecer;
Não só a mim, mas à quem melhor e pior lhe convir.

Modelo: Ana

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Sem Verdades

Este caos, que não me abandona;
Só faz crescer em mim algo que temo,
mais do que a maioria das coisas que o mundo tende a me oferecer;
Também não fujo.
Permito que o fogo me queime até onde acreditar que aguento;
E se outra vida for capaz de lavar meus pecados,
Reduzo meus escrúpulos e permito que algum conforto se aproxime;
Que algum perfume desconhecido tome conta do meu ar;
E eu, respirar sem medo de envenenar-me.
Algo tão fácil de ser sonhado;
Uma única vez, sem defesas.
Algumas palavras novas aprendidas,
para ter o que jogar em um futuro mar de esquecimento.
O preço de uma aposta alta com cartas ruins,
é o rosto que se mostra.
A verdade sempre se deita em uma cama de pregos;
Se põe à prova sem medo algum;
E sempre fere ou é ferida,
por nunca ser absoluta.

Modelo: Camila